Convivo com este número desde a adolescência, quando as proporções do meu corpo começaram a se estabilizar e os dedos dos pés não mais cresciam. Desde então, quase todos os meu sapatos são 40.
A unidade em si representa padrões industriais para estabilizar desvios de fabricação. Confecções das “fôrmas” que acondicionam as “fórmas” dos pés. Pés que sustentam e deslocam. Base do corpo sobre um“objeto social”, cujos desenhos e estilos revelam identidades de grupo, posicionamento econômico, padrões de gênero e civilidade.
Vivenciando uma prática de deriva realizada por três semanas no centro de São Paulo, investiguei deslocamentos do objeto sapato dentro de códigos sociais, numa perspectiva de criar novas ambiências a partir das variações entre tênis, chinelo, descalço e de sapatos de salto 10.
As ações criaram efêmeras zonas de tensão em lugares de livre circulação. Ruas do centro, galerias de arte, setor de bancos, lanchonetes, metrô, ônibus. Em situações como almoçar descalço num bom restaurante, andar de chinelos por consagradas galerias de arte, experimentar roupas masculinas calçando sapatos de salto. E andar, andar e andar.
Um jogo é estabelecido nas relações sociais com os passantes na rua, com os atendentes e clientes do comércio e departamentos públicos. Dinâmicas que se configuram numa espécie de coreografia social. Olhares, torções e interações.
Este blog está em construção e trará relatos e textos propondo reflexões sobre pequenas perversões do cotidiano, atuando nas micropoliticas das cidades.
Este trabalho surgiu na residência artística ‘Entorno’ produzida pelo ‘Corpos Rastreados' São Paulo.
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